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Sempre ouvi dizer que se deve começar a contar uma história pelo início.

 

Pois bem, o que é o lipoedema?

 

É uma doença crónica – para a vida – com possível origem genética, que se caracteriza por uma anomalia nas células da gordura (adipócitos) e na distribuição das mesmas. Tal como o meu médico me explicou, os meus adipócitos em vez de serem normais, são a versão XXL. Estas células tendem a acumular-se de forma simétrica e progressiva no tecido subcutâneo dos membros superiores e inferiores, fazendo com que os tecidos se tornem mais sensíveis à pressão e ao toque, causando dor e desconforto.
O lipoedema afeta quase exclusivamente as mulheres (que sorte a nossa!), e é muitas vezes confundido erradamente com obesidade. A verdade é que o corpo de uma mulher com lipoedema pode parecer bastante desproporcional. No meu caso, tenho uma cintura bastante fina, mas um rabo, anca, pernas e braços “obesos” (imaginam os desafios a comprar roupa).


Para ajudar à situação, mesmo que uma pessoa seja super saudável e “fit”, o volume dos membros afetados por esta doença irá reduzir muito pouco ou nada com exercício físico e alimentação regrada (falo por experiência própria). A gestão desta doença (e não tratamento, pois não tem cura) passa por sessões de drenagem venolinfática manual, compressão pneumática intermitente e até cirurgia (lipoaspiração). Apesar destas opções, a sensação de pernas “pesadas” e o aparecimento de algumas varizes superficiais pode ser inevitável.


Agora que expliquei a componente técnica do tema, vou tentar expôr a componente psicológica, que é bastante menos explorada.


O que vou dizer não é novidade.

Infelizmente a discriminação para com pessoas com um tipo de corpo diferente, fora dos padrões estipulados pela sociedade, já se tornou um hábito. O problema aqui está em sentir que não pertenço a nenhum dos lados deste paradigma. Não sou magra, não sou gorda, sou “normal”? Também não. Porque se existe um nome para definir a minha aparência, então é porque de facto eu não sou só eu, tenho algo mais a acrescentar, fora do “normal”. É estranho, porque sinto mesmo que não me enquadro naqueles movimentos “body positive”. A verdade é que nunca vi ninguém como eu na televisão, nas revistas, nas redes sociais. E eu procurei, juro que procurei. Em cada rua, em cada esquina, em cada escola por onde passei, estive sempre à espera de conseguir encontrar alguém como eu, alguém que entendesse. Mas não encontrei, e ninguém entende, porque também ninguém conhece.


A ideia deste blog surgiu com esse propósito, não só como um escape para poder desabafar sobre as minhas tertúlias e pequenas batalhas diárias com esta doença, mas também para dar a conhecer. Porque não vejo ninguém a falar disto. Não vejo ninguém a defender o meu tipo de corpo. E sei que não estou sozinha. Mas nem sequer a números ou estatísticas esta doença tem direito, porque ninguém conhece, e muitos nem doença consideram. 

 

Se a minha experiência servir para dar a conhecer esta realidade a outros, para que alguém não se sinta incompreendido e confuso como eu me senti, então já valeu a pena.

 

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